26.1.12

gracias a la vida

uma caldeirada de chocos (de onde viriam as parcas ervilhas que boiavam no molho?) muito boa, honesta seria a palavra que melhor a descreveria, numa tasca, quente de gente (conhecida entre si e acolhedora dos estranhos como eu) da trafaria.
costuma dizer-se que a vida dá voltas e a volta que eu ontem dei - ao partir da rua da junqueira, às 7 e pouco, para só chegar a casa depois 1 da manhã - aí está a provar a verdade do volteo.
não fora ter tido de abandonar o meu adorado carrinho na trafaria, ainda que sob a protecção dos bombeiros, e a volta teria valido a pena: a delícia macia dos chocos e das conversas com os outros comensais (alheados do meu mini drama interior excepto o bombeiro casadoiro que minutos depois nele havia de arbitrar), o brilho escuríssimo da água (partilhado apenas por uma outra mulher, alta e doce, cujo rosto de despedia comovida me acompanha ainda hoje), até a outra tasca já do lado de cá cheia de homens de várias línguas  diferentes a verem o mesmo jogo de futebol, foram voltas que, se a vida não me tivesse feito dar, eu não teria dado. o que me teria deixado mais cinzenta e tristonha, o dia de ontem igual ao de amanhã. há uma canção da mercedes sosa, lindissima, cujo refrão tem que ver com este sentimento - gracias a la vida, talvez.