é justo o protesto dos amigos (que "apesar de intelectuais não são sinólogos") por não poderem ouvir nem entender o título do post sobre os dois filmes.
assim, além de agradecer o vosso interesse, peço as minhas desculpas pelo pecado que agora tento reparar.
como em chinês a unidade semântica coincide com a unidade silábica, este verso, de um poema de Du Fu (712–770), pode ser apresentado assim (à la Hawkes - esta é para os amigos que apesar de intelectuais também são alunos):
国 破 山 河 在
guó pò shān hé zài
país(es) ruir montanha(s)-rio(s) existir
os países perecem as montanhas e os rios permanecem
e ainda falta o jogo de tons divertido neste verso. podem imaginá-lo, ou até ensai´-lo, olhando para a sua anotação acima: em guó a voz está baixa e sobe, lentamente em entoação de pergunta e, do ponto mais alto onde chegou (o ó) desce logo, fortíssima e imperativa, até abaixo (ò) explodindo o p na dicção do pó; breve paragem e é a tensão repousada em shān (cuja vogal nasal é aberta como no porto) porque a sílaba é dita na horizontal, sempre lá em cima (como a nota dó) e depois de uma paragem imperceptível (mas fisicamente necessária pois a voz que está em cima tem agora de começar nova sílaba a partir de baixo) volta a subir docemente, aspirando o h de hé, para logo, sem interrupção, voltar a descer (sempre um pouco abrupta ou assertiva) no zài, cujo z soa a dz.