31.1.09

D. Carlos I

a cavidade da cave recolhia-nos no fundo do mundo. a largura da avenida, o molhado da noite, a cortina da árvore, a luz amarela da rua, reduziam o prédio da frente a um azul brilhante no vidro da janela. a mesa estreita e as cadeiras direitas facilitavam o irrecusável face a face; a incompreensível mistura das vozes das pessoas, que enchiam o café, era uma parede que nos encerrava no espaço da nossa própria conversa. acabou por ser só das nossas palavras que vinha a claridade especial com que nos víamos a nós e aos ajuizados fantasmas que tinham acedido à nossa convocação tardia.
P.S. não tenho a certeza se o encontro foi ontem, enquanto era, ou se é hoje ao pensar como foi.