7.10.07

uma casa dois mundos











antes do mais bread and roses. logo depois, ken loach. e portanto, o vento nos campos de cevada e a voz do arquitecto a recusar, nas aulas, a abertura do seu bag of tricks. o prazer da literalmente chamada conversa pegada - sucessão ininterrupta de conversas, a qualquer hora do dia ou da noite (da apple à irlanda dos anos 20, passando pelo prazer comum dos bróculos ou pela constatação da impossibilidade de dizer grelos em inglês - não têm palavra para o referente, mais, não têm referente portanto não têm ideia, nem som, nem signo escrito, também o exemplo do hanson (ou 'de' hanson?) a não funcionar em português onde a vaca tem o mesmo número de pernas que as letras da "vaca", diferentemente do que se passa nessa língua simultaneamente tão estranha e tão familiar - pelos sonhos pesados, nos quais um pouco esterilmente representamentos os nossos próprios papéis, pelos mais pequenos e sua respectiva educação parental (assunto sobre o qual voltamos a estar de acordo), pela tua sedução com a tecnologia e perplexidade filológica ("grelo" tem conotação positiva ou negativa?) e pelos meus ambíguos pequenos prazeres solitários, padre dâmaso e afins. o que, no que à minha pessoa (adoro a ideia de ter uma pessoa só para mim) diz respeito, prova que o dinamismo da onda gigante (xin chao?) abatida sobre a estagnação das back waters, não tem força suficiente para apagar o fervilhar da vida que, de forma invisível e inaudível, se processa abaixo da sua superfície.
nada disto é verdadeiramente inesperado: há uns anos atrás, ao mesmo tempo que tu escolhias os teus primeiros binóculos sonhava eu com a minha primeira lupa; só não previmos, nessa altura, o meu renovado gosto em espreitar o longe através dos teus binóculos, nem o teu continuado prazer em observar de perto o que está perto, prazer de ver, em tamanho aumentado, o que, por ser de tamanho reduzido, raramente se deixa ver.