18.4.07

as viagens dos dias

depois da turbulência atmosférica durante o longo voo do dia de ontem
- encontro matinal, no palácio de justiça, com uma plácida deolinda e um vizinho carlos adormecido, gorado por um superhomem mal-disposto
- espera em vão, em plena bomba, por que o sr. alvaro acabasse a aula de fisioterapia que dava à mãe pelo telemóvel, para vir comigo à pm
- discussão inútil, na pm, por altura do meio dia, sobre a paragem dos carros em espinha, lutas de moradores/parcadores, prédios sem garages e moradores com cataratas
- assinatura do documento de doação do carro e entrega subsequente dos documentos e da chave, gesto que o polícia teve a lata de agradecer
- passeio pela cidade fora da cidade que é a da praça de espanha e café tomado numa das suas esplanadas, meditando sobre a questão da ambivalência
- já no chamado local de trabalho, procura, de entre uma lista de mais de duas dezenas, do motivo por que chegara atrasada (não constando a participação num julgamento nem a doação ao estado do seu único automóvel, optei por pôr a cruz em "motivos não imputáveis ao trabalhador" mais capaz de descrever o meu estado de espírito do que o mais aberto "outros"
- comida do segundo papo-seco do dia a rever os tópicos da aula que iria dar ao fim do dia
- tempo vazio de pensamento ou desejo, no túnel da politécnica, que em contraste com o do marquês, abriu muito antes de ser construído, entre as 2 e as 6
- rápida reactivação mental e emocional, no taxi, com a conversa de blogues e taxis
- terceiro papo-seco, no bar da faculdade de economia e prazer da voz doce do g. no tm
- trabalho motivado e motivante com os alunos - o exaltante prazer da criação, troca e discussão de ideias. 3 horas que pareceram 3 minutos
- regresso ao bairro marcado por uma inesperada reflexão sobre as divergências internas no seio do islão (proposta por um inteligente e informado motorista de taxi)
- desembarque na rua por trás da minha onde a marta wengorovius inaugurava uma nova exposição (mise a nu par le soleil). o deleite imenso de ver amigos, aqueles de que se gosta muito entre outras coisas, talvez sobretudo, porque a sua amizade vem de longe, i. é., dos tempos felizes)
- lá dentro, uma convoluta e ascendente linha verde fez-me subir e uma linha direita muito amarela fez-me entrar. por estes dois leves movimentos de alma tenho tudo a agradecer à marta
- janelas abertas ao ar fresco da noite na cidade, em casa do m. dentro os amigos mais uma vez, os vivos claro mas também os mortos.todos lado a lado à roda da comida e do vinho e das conversas entre-cortadas
- boleia a pé do outro m. a caminho, cada um de sua casa, ambos deliciados pela frescura refinada do vento na pele da cara e dos braços
-sonho que acordo e me levanto para entrar na sala da frente onde vejo pendurada a grande tela branca onde a marta pintou a brecha vertical muito amarela que agora se abre para eu entrar aflita e fascinada
vem a calmaria registada na curta viagem de eléctrico de hoje