29.6.09

copos gueliropos

no algarve, em casa da minha avó, havia sempre dois ou três copos exclusivamente destinados a dar de beber a quem nos batia à porta implorando uma "pinguinha de água".

entre aqueles a quem nessa época remota todos os dias matávamos a sede, havia diferentes tipos de veraneantes mas a maioria era constituida por "pobrezinhos". lembro-me que depois de despejarem, num único trago, a imensa massa do "precioso líquido" contida no imenso continente de vidro, imensamente grosso, no-lo devolviam vazio, submissos e envergonhados, balbuciando desajeitadas desculpas pelo pedido, pela sede, pela pobreza, e comovidos agradecimentos pela água, pelo copo e pela generosidade.

um trisneto dessa trisavó algarvia partiu o último copo que restava desse "serviço" cuja função actual, desaparecida, não a sede, mas a discriminação no acesso à agua, era agora apenas a de me ligar a partes esquecidas ou não reclamadas da minha pessoa.