12.6.08

fan não agrada a gregos nem a troianos

a argumentação com que o professor fan meizhong (范美忠) justificou o seu comportamento durante o terramoto no sichuan (disparou a correr da sala de aula para a rua deixando os alunos para trás) indignou os espíritos dos mestres filósofos chineses independentemente das escolas que formaram em vida e/ou das ideologias que institucionalizaram depois de mortos.
mas foi o espírito aguerrido de mozi quem mais balbúrdia causou entre os espíritos dos filósofos. indignado por fan ter escrito que "em momentos de vida ou de morte", só pensava em salvar a su própria pele, "não se importando com a vida de mais ninguém a não ser a da sua filha", virou-se contra os espíritos ru acusando-os de serem os responsáveis pelo que, na sua ânsia pelo amor universal, aparece como uma expressão contemporânea do egoísmo familista-nepotista defendido pelos seus adversários letrados.
o conflito agudizou-se quando o pequeno mas aguerrido grupo dos espíritos mohistas foi atacar o orgulhoso espírito de mengzi, com o pretexto de que o comportamento de fan tinha destruído a sua teoria sobre a bondada inata da natureza humana e deitado por água abaixo o argumento do poço com que ele a defendia.
acabou por ser o espírito do mestre que, apesar de deprimido pelo facto de um colega professor se declarar capaz de fugir ao desabamento dum prédio sem levar a mãe consigo, conseguiu serenar os ânimos exaltados dos outros espíritos através da sua tranquila sensatez e humana tolerância. de resto, o mestre, mais interessado pela experiência concreta e afectiva do que pela especulação abstracta e racional, não julga nem condena fan: se ele, diferentemente de outros homens, não sente pela mãe o amor capaz de o levar a dar a vida por ela, nada o obriga a salvá-la na prática nem a fingir, na teoria, de que era capaz de o fazer.