22.2.08

os casos clínicos de sacks como "exercises in love and respect"

o oliver sacks foi-me recentemente "apresentado" a partir da história do pintor que, ao perder (um)a visão ( 'normal' com cores), ganhou outra ('anormal' a preto e branco), o que não o impediu de pintar mas o levou a fazê-la noutra direcção (an anthropologist in mars). como quase sempre acontece, passei a encontrá-lo a toda a hora. na semana passada, numa consulta de oftalmologista, ainda sobre o cérebro e os olhos, uma parte dele, claro está. esta semana numa revisão, por colin mcginn, da sua obra musicophilia: tales of music and the brain. aqui, como o título indica, os casos clínicos apresentados são de pessoas cujo cérebro musical se caracteriza ou pelo décifit ou ou pelo superavit. mas, o que agora me interessa registar, é o modo como mcginn vê sacks a ver:
1. a pessoa: (...) irreducibly a center of thought, feeling, and will, yet (...) also a puppet of the circuits and nuclei that make up the brain;
2. o cérebro: (...) our ineluctable fate, but the person is more than a mere syncopation of brain regions;
3. o princípio da realidade: you have to live with the brain you've got, making the best of its contingent strengths and weaknesses, not the brain you might ideally have preferred:
4. o princípio do prazer: the human mind can take many forms (...) and some can indeed appear bizarre and threatening, but there is always a self that underlies these myriad forms—and that self can sometimes enjoy virtues and powers not found in the normal
5. a inescapabilidade do eu (e do outro): in the midst of tremendous neurological upset there is still a human self throbbing within (...) the amnesiac or the catatonic is still a center of consciousness, capable of feeling and thought (... ) there is always an "I" there, someone to whom things matter; so long as there is consciousness at all, there is a subject of that consciousness (..) even if you can't tell your wife from a hat [título de uma obra de sacks] there is still a you that must deal with this disability.

este post acabou por se transformar numa homenagem ao zé maria. que tão bem está a aproveitar, para usar a expressão de mcginn, a tremenda perturbação por que passou o seu cérebro, para reforçar e refinar o que, até ao seu desastre, não seria mais do que a normal capacidade e gosto de viver dos humanos jovens. estou a pensar num comentário, que lhe "ouvi" por interposta pessoa (e meio de comunicação pois o zé maria ainda só fala por escrito e estava a falar com o pai dele), sobre os interlocutores (ironicamente um 'normal' e outro'anormal') de uma conversa travada na sua presença: "estes não gostam de viver! têm medo..."