20.9.07

pão, massa e sabonetes

9:30 da manhã. supermercado na rua de são bento. à saída da caixa demora-se uma amável velhota que acaba de comprar uma carcaça. em frente da caixa um homem mal-encarado tenta pagar os 8 pacotes de massa cotovelos espalhados no balcão. aproxima-se, vinda da rua, uma mulher alta e clara de meia idade: "oh menina pode dizer-me se aqui vendem sabonetes?". depois de ouvir uma lacónica resposta afirmativa da 'menina' da caixa, a recém-chegada olha em volta como que em busca dos sabonetes. "estão ali" apressa-se a ajudar a velhota ainda às voltas com o tempo e com a carcaça. 'ali' era mesmo em frente da caixa. "a menina desculpe, mas acha que eu posso ir lá buscá-los?". a 'menina' levanta pela primeira vez os olhos da máquina registadora e pousa-nos na alta figura feminina clara e limpa. demora-se a olhá-la, sem zanga nem troça, a olhar apenas como se nada visse. ao ouvir o "pode" sussurrado pela senhora da caixa, a senhora compradora de sabonetes, ultrapassa delicadamente a senhora velhota e tenta ultrapassar o senhor dos cotovelos. esboço de confusão até uma voz ditar: "aí é a saída, tem de entrar pelo outro lado". logo a senhora que comprou uma carcaça agarra no braço da senhora que quer comprar os sabonetes e, dirigindo-lhe os passos, enfia-a no corredor 'certo' e entram ambas no supermercado. a mais velha vai contente e segura, a mais nova hesitante e não segura. os olhos da senhora da senhora da caixa voltam à caixa registadora e os seus braços recomeçam a passar, um a um, os pacotes de cotovelos.