11.4.07

hillary/segolen vs angela

é divertido mudar de opinião. sobretudo quando se trata de opiniões antigas, como que naturalizadas pelo uso - crenças enraizadas em nós e, como tal, estruturantes do que seria a nossa personalidade de base. mudar de opinião tem algo de semelhante com o mudar de roupa, faz-nos sentir renovados, nós e o mundo em volta. foi o que me aconteceu com a leitura deste artigo. Comecei a lê-lo vestida de uma cor e, sem dar por isso, acabei (o) vestida de outra. O que é que (se me) mudou então? Mudou a abordagem do papel do sexo ( feminino, naturalmente, pois só este funciona como “outro”) no discurso politico das mulheres políticas. Não na prática pois, até ver, continuo a pensar que o uso prolongado do género feminino, e, nomeadamente, a prática da maternidade (para não falar já na consciência da discriminação sexista seja ela descarada ou mascarada) implica maneiras diferentes de fazer o que se faz (we stand where we sit não é?). daí ver-me agora a partilhar dos receios de MB sobre a opção de Hillary e Segolen (assim mesmo pelos nomes próprios apenas como nas nossas sociedades são tratadas as mulheres e as crianças, por oposição aos homens geralmente tratados pelos mais formas/distantes apelidos), de colocar o sexo no centro das suas políticas. Por outras palavras, de usar a sua qualidade (ou estatuto? Ou papel?) de mães como instrumento legitimador da sua autoridade e capacidade políticas. Isto porque, não só esses “atributos pessoais” estão muitas vezes em conflito mútuo (Segolen escreveu que pelos filhos largaria a política no dia a seguir), como a sua avaliação é feita a partir de estereótipos sexuais: aos homens politicos não só se perdoa como talvez se espere que sejam “mais politicos” e “menos pais”; com as mulheres passa-se o oposto sendo de prever que o eleitorado não lhes perdoe o facto de serem (representadas como) “menos mães”. Se esse for o caso, por parte do seu eleitorado, elas acabam por contribuir, ainda que involuntariamente, para uma derrota que não é só sua mas de toda uma geração.